terça-feira, 26 de maio de 2015

Outro

Passa um homem de jaqueta velha, preta, surrada pelo trabalho. Passa uma garota jovem, uniforme de ensino médio, parece feliz. Passa o malandro da região, vendendo celular barato e aquele filme pirata. Passa essa criança vendendo bala, quase sem infância nos olhos. Passa outro. E mais outro. E tanto faz.

No caminho pra onde quer que seja, só interessa o relógio. Faltam poucos minutos pro meu atraso. Não presto atenção ao caminho, aos encontros, às pessoas, aos detalhes. No centro da cidade existem tantas histórias, mas tão pouco interesse... De onde veio esse velho mané? Esse cara tocando Beatles? Essa mulher correndo com pressa? Não tenho tempo pra isso, ninguém tem!

O outro virou passagem. Outro carro, outro poste, outra loja, outro cão, outro homem. A cidade engoliu a empatia. E antes que eu perceba, outro homicídio, outro sequestro, outro suicídio. Pobre coitado, mais um que se vai. Outro.

Mas ama o outro como a ti mesmo. Ama sem sentir, sem se importar. Diz que ama, e finge uma tragédia.

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